quarta-feira, 4 de maio de 2011

Xingu por Cassio Amarante

Cassio Amarante preparando o avião para cena. Foto de Beatriz Lefèvre.


Li esses dias sobre o novo filme de Werner Herzog, rodado na caverna de Chauvet. Desde as primeiras linhas do artigo do NYT encantei-me pela descrição dos desenhos e os cuidados para sua preservação. Fiquei particularmente orgulhoso pelo fato dos desenhos provarem que desenhar é uma forma de expressão tão ancestral e universal; que uma mensagem de 30.000 anos pode ser integralmente entendida por nós. Até ai não passava de vaidade minha, me achando um desenhista das cavernas, me imaginando um praticante da arte primordial... mas o artigo continuou descrevendo o processo de documentação, e rapidamente ficaram claras as dificuldades e a importância do registro em filme. Os desenhos e murais são belíssimos e devem ser a primeira obra de arte preservada da nossa espécie. Não se trata da nossa civilização, e sim da trajetória do Homo Sapiens. Comecei então a sentir uma enorme satisfação pelo fato do sr. Herzog estar a frente do projeto, e o artigo termina assim: “ Werner é o primeiro artista a trabalhar nessa caverna em 30mil anos”. Confesso que quando acabei de ler comecei a chorar, por que sou bobo, e porque tive a certeza de que nós, homens do século XXI, tínhamos enviado o cara certo para esse contato tão sublime, um artista. Quando me lembro dos dias no Xingu, e penso na imagem dos meus amigos Cao e seu filho Tom, cruzando a Aldeia Yawalapity, conversando como dois irmãos, tenho a mesma sensação de que enviamos o artista certo para essa empreitada tão sublime.

O filme Xingu, além de ser um ótimo filme, deverá ser um marco na transformação da visão que temos do índio.
Espero que tenhamos a coragem de fazer outros projetos dessa natureza, que antes de mais nada ajudam a construir a história do Brasil.

Boa sorte a todos os Xingús!

Cassio Amarante.

São Paulo, 04 de maio de 2011.

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