sexta-feira, 27 de maio de 2011

"Xingu" por Anna Van Steen

Foto enviada por Anna Van Steen

Participar das filmagens de "Xingu" foi sensacional. Primeiro pela honra de poder contar, à nossa maneira, quem foram os irmãos que realizaram feitos historicamente tão relevantes. Conhecer a região de Tocantins e o Parque do Xingu foi um privilégio, embora eu não possa dizer que tenha sido fácil. Durante o trabalho, nos sentíamos verdadeiros guerreiros ao enfrentar o calor devastador do local, o ar seco, a fuligem das queimadas e os insetos, sem contar com o medo de cruzar com uma sucuri nadando no rio... Nada comparável às dificuldades vividas pelos Villas Boas, claro, mas ainda assim, bastante difícil. O que compensava as adversidades, além das estonteantes paisagens, era o contato que fomos estabelecendo com os índios durante o processo. No início estudando nos livros e vídeos, depois conversando com estudiosos da cultura indígena e finalmente ao desenhar, junto com eles, a maquiagem do filme.
Pessoas que nos mostraram uma maneira diferente de olhar para o entorno e para as relações humanas. Novos amigos que pretendo preservar e admirar sempre. Que tema importante estamos abordando!
Torço para que o filme seja um sucesso.



Anna Van Steen foi responsável pela maquiagem de "Xingu".

terça-feira, 17 de maio de 2011

Xingu por Marcelo Torres

Marcelo Torres - Foto de Beatriz Lefèvre

O filme Xingu é como prêmio de profissão. Sou suspeito para falar.

Primeiramente, amo fazer Cinema e fazer Cinema dessa forma que fizemos é maravilhoso.

Ao ler o roteiro já pude imaginar lugares com beleza e preservação indescritíveis. Desde muito novo percorro a região Centro-Oeste em viagens de pescaria com meus pais, meus tios e meus primos. Então sugeri o Tocantins por ser um lugar onde a natureza ainda mantém seu equilíbrio. Lugar onde temos rios limpos, pássaros e animais silvestres, um lugar onde poucos pés humanos pisaram.

Contar a história dos irmãos Villas-Boas é contar um pouco da nossa história. História que talvez poucos conheçam. História de verdadeiros heróis. E heróis brasileiros. Foi durante os 40 anos de expedição, de desbravamento de terras, de doenças, nascimentos, mortes, alegria, perseverança, amizade que eles criaram o Parque Nacional do Xingu. Com garra, determinação e acima de tudo esperança.

E o nosso filme foi feito com toda essa carga de energia e emoção. Orlando, Cláudio e Leonardo estiveram presentes conosco nessa empreitada. A nossa expedição começou verde, as paisagens ainda estavam começando a receber os raios alaranjados do sol escaldante do Tocantins. A chuva já tinha ido embora. E no decorrer da nossa expedição as fumaças começaram a tomar conta do horizonte. Mas a Lua sempre vinha para acalmar e intensificar mais a beleza do cerrado.

E assim se sucedeu os meses que filmamos no Tocantins. Pude mostrar a natureza que meu pai me apresentou. Pude ter o prazer de fazer o que gosto num lugar onde a natureza é exuberante e virgem.

O Xingu é um filme que nos faz pensar na vida. A saga dos três irmãos nos mostra todas as relações, a importância dos sentimentos, a luta pela sobrevivência, a amizade, a cumplicidade, a descoberta, a esperança.

É um filme que vai nos mostrar um pouco da história brasileira, a história dos índios, da cultura indígena, vai nos contar uma história de vida, uma história de heróis.


Escrito por Marcelo Torres, diretor de produção de "Xingu".

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Xingu por Adriano Goldman

"Cinema é cedo e longe". A frase não é minha, mas eu uso bastante. E traduz muito bem o projeto “Xingu”.
Tudo era longe, acordávamos muito cedo e percorríamos centenas de quilômetros por dia. De carro.
Os irmãos Villas Bôas fizeram tudo a pé e de canoa, por mais de dez anos. Empreitada sobre-humana.
Depois de pesquisar bastante, ler o "Marcha para o Oeste", visitar as locações pelo menos duas vezes, incluindo o parque do Xingu e as aldeias, fomos percebendo que, querendo ou não, faríamos um tipo de western sulamericano, o nosso épico. Imensas paisagens, o desconhecido, o cerrado. Os pioneiros do centro- oeste.
Pra mim foi, de fato, um grande desafio. A equipe, os cenários do Cassio, as filmagens em rios e canoas, aviões e aldeias remotas foram fazendo um pacote grande.
Decidimos filmar com duas câmeras e pela primeira vez eu não seria um dos operadores. A idéia era ter uma equipe principal e uma outra que pudesse sair atrás de paisagens e imagens que completassem cenas já filmadas.
Xingu seria um filme de externas e isso pode ser muito estressante para o fotógrafo. A idéia de que não teremos controle sobre a luz é sempre um problema. Conversamos muito sobre a luz tropical, a realidade dos Villas Bôas percorrendo o cerrado e a mata e decidimos não fazer um filme da "luz ideal' mas da "luz real", ou seja a luz dura, zenital, quente, batendo sem dó nos chapéus seria bem vinda. Claro que também queríamos a bela luz, o fim de tarde glorioso mas era muito importante ressaltar a "dureza" da empreitada.
Pronto pra começar.
E começou a queimar tudo. O Tocantins queimou enquanto filmávamos. Sem exagero. Clima de deserto, mais de 40 graus, 15% de umidade, as fazendas e parques da região queimando. A fumaça envolvia o set. Podíamos olhar diretamente para o Sol. Lá estava ele, laranja, acima da fumaça.
Nem tive como ficar frustrado, assim é que seria.
Tivemos a luz tropical mais soft. Tudo foi ficando monocromático, nos tons do figurino e dos cenários de madeira.
O cinema tem disso, depois de tudo preparado temos que estar abertos ao que é novo e surpreendente. Claro que acumulamos experiência mas cada projeto é absolutamente diferente do outro.
Começamos em São Félix do Tocantins aonde construímos o cenário do posto Leonardo e onde filmamos em rios lindos de água cristalina e a paisagem do cerrado. Depois Caseara onde filmamos o posto Diauarum e rios com água turva, muito mais largos e árvores muito mais altas, mais amazônicas. A diferença das paisagens sempre foi um dos pontos que o Cao quis enfatizar, assim perceberíamos melhor as distâncias percorridas e o isolamento do Claudio. Depois a região de Palmas e dalí para a Aldeia Yawalapity , verdadeira viagem no tempo, incrível experiência e, por último São Paulo, onde a história começa. Muitos quilômetros rodados.
Fui a lugares aonde jamais teria ido se não fosse pela profissão que escolhi e por esse projeto raro.
A história estimulava todos da equipe e o trabalho dos atores e dos índios(fantásticos) foi nos transportando para a realidade dos irmãos e cada vez era mais clara a importância da saga dos Villas Bôas para a história recente do Brasil.
Fiquei muito feliz com o resultado visual do filme mas ser bonito não basta. Queremos que o Xingu seja um filme "importante", ou seja, que coloque em discussão a questão do índio, a preservação das culturas indígenas, que apresente às novas gerações as figuras transformadoras da realidade, que mostre ao público estrangeiro um novo lado da história recente da América do Sul e, claro, que seja também entretenimento.

Esse texto foi escrito pelo diretor de fotografia de "Xingu", em 11/05/11.

Foto de Beatriz Lefèvre.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Xingu por Cassio Amarante

Cassio Amarante preparando o avião para cena. Foto de Beatriz Lefèvre.


Li esses dias sobre o novo filme de Werner Herzog, rodado na caverna de Chauvet. Desde as primeiras linhas do artigo do NYT encantei-me pela descrição dos desenhos e os cuidados para sua preservação. Fiquei particularmente orgulhoso pelo fato dos desenhos provarem que desenhar é uma forma de expressão tão ancestral e universal; que uma mensagem de 30.000 anos pode ser integralmente entendida por nós. Até ai não passava de vaidade minha, me achando um desenhista das cavernas, me imaginando um praticante da arte primordial... mas o artigo continuou descrevendo o processo de documentação, e rapidamente ficaram claras as dificuldades e a importância do registro em filme. Os desenhos e murais são belíssimos e devem ser a primeira obra de arte preservada da nossa espécie. Não se trata da nossa civilização, e sim da trajetória do Homo Sapiens. Comecei então a sentir uma enorme satisfação pelo fato do sr. Herzog estar a frente do projeto, e o artigo termina assim: “ Werner é o primeiro artista a trabalhar nessa caverna em 30mil anos”. Confesso que quando acabei de ler comecei a chorar, por que sou bobo, e porque tive a certeza de que nós, homens do século XXI, tínhamos enviado o cara certo para esse contato tão sublime, um artista. Quando me lembro dos dias no Xingu, e penso na imagem dos meus amigos Cao e seu filho Tom, cruzando a Aldeia Yawalapity, conversando como dois irmãos, tenho a mesma sensação de que enviamos o artista certo para essa empreitada tão sublime.

O filme Xingu, além de ser um ótimo filme, deverá ser um marco na transformação da visão que temos do índio.
Espero que tenhamos a coragem de fazer outros projetos dessa natureza, que antes de mais nada ajudam a construir a história do Brasil.

Boa sorte a todos os Xingús!

Cassio Amarante.

São Paulo, 04 de maio de 2011.