quarta-feira, 9 de março de 2011

O terceiro filme – a montagem

"Fazer um filme é fazer três filmes", acho que foi Truffaut que disse isso, ou algo parecido.
A verdade é que podemos dividir o processo de feitura de um filme em três etapas.
A primeira é o roteiro, que no nosso caso incluiu grande pesquisa.
A segunda é a produção, que inclui e termina com as filmagens.
A terceira etapa é a montagem, que inclui trilha sonora, edição de som e toda a finalização de imagem.
Cada uma dessas etapas é tão intensa, definitiva e definidora, que dá a sensação de que são, cada uma delas, uma obra em si.
Por isso, a frase de Truffaut.
A somatória de todas as escolhas, em cada detalhe de cada uma dessas etapas, é que compõe a obra final.
Longo processo.
Pode se pensar que a montagem, por ser a ultima etapa, é mais importante e definidora de todo processo.
Por um lado é, por outro não.
Se por um lado podemos corrigir, consertar, evidenciar, esconder, reforçar acertos e defeitos, por outro não é possível fazer milagres.
Se o roteiro filmado não tiver sido minimamente bem estruturado, se os atores não estiverem bem, se a câmera e a fotografia não forem adequadas, se as cenas não estiverem bem filmadas, por mais que a montagem seja inspirada, vai ser difícil conseguir um bom resultado.













Foto da região do Xingu por Guilherme Ramalho.


"O material é rei"


Essa é outra frase que gosto muito. É de um grande montador brasileiro, Umberto Martins.
Refere-se ao "material" filmado, às cenas que chegam à sala de montagem.
Entendo essa frase por dois pontos de vista: se o material filmado for ruim, não podemos fazer milagres mas, se o material filmado for interessante, ele é o "rei", vai nos apontar os caminhos do filme.
Esse é o grande desafio e o grande barato da sala de montagem.
Temos que estar apoiados nas etapas anteriores, o roteiro e a produção, mas estar de olhos e coração abertos para entender o que o material em mãos está nos apontando..
Por mais que você tenha convivido intimamente com as cenas escritas do roteiro, depois de passar pela experiência sempre intensa e visceral de filmá-las, quando chegamos à sala de montagem, as cenas surpreendem, assumem outras identidades. Para o bem e para o mal.
E não são identidades fixas e definitivas. Dependendo da ordem em que você as organiza, da trilha sonora que você as associa, e de outros tantos recursos disponíveis nessa fase, elas se modificam, criam novos significados, novos tons e diferentes emoções.
"Fazer um filme é fazer três filmes". Em cada um deles, a processo ainda está em aberto, ainda há terras desconhecidas a desbravar.
No próximo post, começo a contar a história da montagem do Xingu.


Cao Hamburger

3 comentários:

Welington@hotmail.com disse...

O filme está pronto?

Sergio Cerqueira disse...

Já tem data prevista pro lançamento. Quero ver com as minhas filhas de 10 e 12 anos. Sempre sonhei com um filme sobre esses três heróis brasileiros.

Raphael Carvalho Gimenes disse...

Oi Cao, sou fã do teu filme "O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias", e sempre fui interessado nessa história que tás usando no teu novo filme. Aguardo ansiosamente. Uns caras que com certeza sabe fazer trilha sonoras pra filme sobre índios seria Egberto Gismonti e Naná Vasconcelos :).

Uma pena eu morar fora do Brasil, vai demorar mais ainda pra eu poder ver.. fazer o que!

Grande abraço.