Estava me preparando para participar do Festival de Cinema de Berlim, com o filme "O Ano em que meus pais saíram de férias", quando a O2 Filmes me apresentou o livro “A Marcha para o Oeste”, de Orlando e Claudio Villas Bôas. Noel Villas Bôas, filho do Orlando, foi quem os procurou dizendo que a história dos Villas Bôas estava esquecida, que as novas gerações precisavam conhecer essa história e esses caras, etc.
Minha primeira reação foi de susto.
Conhecia um pouco a história dos caras, sabia que era algo muito grandioso e ao mesmo tempo me bateu o receio: falar de heróis nacionais superficialmente, sem poder aprofundar os conflitos e as contradições humanas.
Então propus que fizéssemos uma pesquisa para entender os diferentes pontos de vista dessa história incrível, entender as ambiguidades, os dramas e todo o potencial dramático envolvido na história.
E assim começou esse projeto.
Chamamos Maíra Buhler, antropóloga e diretora de documentários, para realizar uma pesquisa inicial.
Foi o bastante para nos apaixonarmos pela incrível história dos irmãos Villas Bôas e de todos que dela participaram.
Achamos uma história repleta de aventura, drama, suspense.
Personagens complexos e instigantes e um universo de questões filosóficas, políticas e humanas.
Tudo que um bom filme precisa.
A pesquisa
Para aprofundar a pesquisa iniciada com Maíra Buhler, fomos a campo conversar com as pessoas que conviveram com os irmãos e/ou fizeram parte da saga.
Índios, brancos, amigos, não tão amigos, estudiosos, críticos, familiares.
Percorremos arquivos, lemos livros, vimos filmes e fotografias.
Fomos ao Parque do Xingu duas vezes.
Colhemos material que daria para contar muitas histórias, talvez mais de um filme.
Foi um trabalho primoroso de pesquisa.
Uma viagem no tempo e no espaço.
Por entre picadas, rios, cerrados e matas.
Conversas em bares, universidades, casas, ocas, aldeias.
Muitas línguas e culturas diferentes.
Povos que habitavam o que hoje chamamos de Brasil, muito antes de Cabral.
Nos deparamos com quem desbravou o "Brasil desconhecido" e com quem foi "invadido".
Um assunto polêmico, explosivo e extremamente contemporâneo.
Ainda hoje o embate entre o "progresso" da civilização dita civilizada e o equilíbrio sócio-ambiental das civilizações ditas primitivas está em questão no Brasil e no mundo.
Próximos passos
Bem, agora estamos em pré-produção.
Truffaut dizia que fazer um filme é fazer três filmes. O primeiro é o roteiro (nos próximos posts contarei mais sobre essa etapa). O segundo é filmar o roteiro. O terceiro é editar o material filmado. E, em cada uma dessas etapas, parece que tudo começa do zero novamente.
Estamos acabando o primeiro filme e começando o segundo filme.
Abrindo novas picadas, percorrendo novos territórios.
De algum lugar entre Brasília e Palmas-TO, 30 de junho de 2010.
Cao

Reunião de análise técnica com equipe

Equipe de direção com Caio Blat

Cao Hamburger e Caio Blat